sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Power Trio

Anderson e Ted se conheceram na infância, no início eram apenas vizinhos, a música foi o primeiro elemento que os uniu e até a diferença de idade de 3 anos foi superada. Anderson era muito calado, Ted, só um pouquinho menos. O universo se resumia a fitas, lps (todos de rock) e umas idas à sorveteria do bairro. Para irem a algum lugar mais distante, Ted tinha que comparecer pessoalmente à casa do amigo e informar o roteiro a sua família. Como os pais de Ted tinham ótimas relações com os de Anderson, não era um processo dos mais complexos. Com idade média por volta dos 14 anos, os dois conhecem ‘o Mauro’. O novo amigo já era considerado ‘experiente’ pois já fumava, bebia, passava alguns dias fora de casa sem avisar, tinha os cabelos tocando nos ombros e já havia experimentado até um baseadinho. Anderson e Ted ficaram impressionados com a desenvoltura verbal de Mauro, pois até poemas de Augusto dos Anjos o sacana sabia decorado. Eis que surge a banda de rock mais importante da cidade, digo região, ou melhor dizendo, do bairro,.....tudo bem, da Rua 9. Existem outros personagens na estória, como o Jean Marzica, Luize, Davírgula, Fabuloso, mas fica para outro momento. O Power trio estava agora completo: Anderson já tocava bateria, Ted, guitarra e Mauro contrabaixo. Coincidentemente, os pais dos três também tocavam mal algum instrumento. Os amigos tinham personalidades complementares: enquanto Anderson queria se jogar no mundo novo e descobrir todas as experiências que Mauro apontava, Ted ficava ali no meio termo, curtindo as aventuras com um dedinho na realidade, tentando dosar as loucuras dos colegas e ao mesmo tempo administrando suas próprias loucuras; as vezes sonhava com um amor, mas isso pra ele ainda era algo platônico.... Mauro era garanhão, estava sempre jogando charme para o mulherio local, vestia calças desbotadas e jaquetas, mesmo nos dias de calor mais africano; tinha sempre uma piada ou estória interessante para atrair as atenções e não é que o safado conseguia. A amizade dava certo, pois tinha esses extremos que se alternavam: loucura, sensatez, sonhos, realidades, expectativas, decepções, futuro, presente, sorvetes e vinhos, mais vinhos que sorvetes a partir de então. A juventude era uma janela para o infinito e eles iam extraindo suas experiências entre shows (de rock), mesas de sinuca, expressões artísticas, fitas cassetes, livros, grana limitava e cervejas sem limite e no final tudo dava certo. A banda do momento era a banda que iria dar certo, todos tinham certeza absoluta que iram virar astros do rock, era como um leite fervendo..... a coisa ia subindo, subindo, até que ..., melava tudo e não dava. Várias bandas se sucederam, mas o Power trio acabava se encontrando nos próximos projetos. Anderson aprendeu a se expressar e já discutia Literatura Russa e Física Quântica, Ted era meio dividido entre o curso de administração/web sites, economia/design; Mauro largou o baixo, casou, entrou para o curso de Literatura e só de olhar pra capa, já conseguia discutir um livro. A vida foi passando e cada um tomando um rumo diferente; conheceram novos amigos, participaram de outras turmas, se isolaram, construíram e desconstruíram relações. 20 anos depois, tenho tido menos contato com os três, mas soube que Anderson está participando de um grupo de estudos de filosofia pós-espiritual, além dos estudos para concursos, Ted virou funcionário público e se diverte pintando telas e Mauro escreve textos, está distribuindo charme como mestrando e pensa ser professor universitário. Nem sei se são felizes com suas escolhas, mas não dizem que a felicidade é só o caminho? Fico pensando no que faz algumas amizades durarem mais que tantas outras, será a compatibilidade, divergência ou complementação de gênios? O importante é que eles se encontram ao menos uma vez por mês, lá no bar da Rua 9, pra falar de suas ex-promissoras carreiras, experiências, sonhos, frustrações, realizações, além dos rotineiros questionamentos literários/espirituais/artísticos/filosóficos, regados do mesmo senso de humor, é claro. Novos projetos despontam à mesa diretamente proporcionais às cervejas e a miscelânea vai unindo o Power trio entre deuses e doses.



5 comentários:

Malthus de Queiroz disse...

Mermão, qualquer coisa que eu disser será infinitamente pequeno comparado ao texto. Por isso, direi apenas que eu gosto PRA CARALHO da gente, velho. E que Marzica tá me fazendo rir até agora! Abraço, cara

Theo Costa disse...

uuahhahahahahah...

SuNshyne disse...

Tenho uma amiga que conheci aos 12 anos e somos amiguissimas até hj! TE encontrei na comunidade do panico, visite o meu blog também!

Anônimo disse...

Chorei

C.Opium disse...

acho que conheço o som desse "power trio"...hehehehehe. as amizades verdadeiras consisti numa simples união.
muito foda esse estória.
wargraço guerreiro